Uma
mensagem pode ser expressa através de um símbolo, que por sua vez ensina uma
verdade ideológica. Um símbolo se não for bem pensado e analisado, pode
refletir o que não se queria, especialmente os que vem do passado. É nessa
dificuldade que o neopentecostalismo tem caído. Por não haver em seus círculos
muitas pessoas com uma formação teológica mais profunda, pela preocupação quase
que exclusiva na propagação de sua mensagem, por ignorar a correta doutrina e
serem autossuficientes, os neopentecostais têm escolhido símbolos que revelam
suas falhas estruturais. Veremos no âmbito desse trabalho apenas três deles, os
mais utilizados, já que esse universo é vastíssimo.
Em
primeiro lugar temos a estrela de Davi, ou estrela de seis pontas. Se a
observarmos bem veremos que ela consiste de um triângulo com o vértice para
cima e o outro para baixo. Seu nome original no hebraico é Magen Davi, o que
significa “escudo de Davi”, e é parte integrante da bandeira de Israel.
Os
neopentecostais são grandes admiradores da simbologia de Israel. Não por acaso,
mas por uma questão teológica: a porção da Bíblia que fala sobre Israel, o AT,
não trata do sacerdócio universal dos crentes, mas do sacerdócio levítico e de
sua elite religiosa como classe dominante. Isso combina com sua eclesiologia
que geralmente é elitista.
A
essência do neopentecostalismo exige que exista uma estrutura de poder centralizada,
de modo que um líder domine. Por ser aquele que detém as revelações, o pastor
neopentecostal não pode ser confrontado, parecendo muito mais com um sacerdote
do AT do que com um pastor evangélico.
Se
o conteúdo neopentecostal é baseado no AT, podemos dizer idem para os seus
símbolos. A estrela de Davi remete o fiel as vitórias e conquistas do rei
Davi, fazendo com que ele relacione o seu presente com a vida do personagem.
Através de uma fraca hermenêutica, torna-se fácil associar a aliança davídica
com uma aliança que o fiel pode ter hoje, e que trará sobre sua vida as mesmas
vitórias do passado. Se a cruz fala de dores, a estrela de Davi fala de
conquistas.
Como dito pelo Pr. Isaltino Gomes
Coelho Filho no Congresso de Adoração, acontecido na quinta-feira, dia 26
de julho, por ocasião da 99ª Assembléia da CBF, em Cabo Frio, RJ:
Mas há um problema aqui. Na realidade, a estrela de
Davi não é judaica. É um símbolo do Oriente, não judaico, que designava a
fertilidade, a união do masculino e do feminino. O masculino é o vértice para
cima, e o feminino o vértice para baixo. Entre os sumérios, simbolizava a união
de Marte, o masculino, com Vênus, o feminino. Com toda probabilidade, Davi não
usou esta estrela. Ela foi introduzida na bandeira de Israel por Theodor Herzl,
o fundador do sionismo. Entrou no judaísmo pela cabala, pelo significado da
união sexual do masculino e feminino. Pode ser hoje um símbolo judaico, mas não
é bíblico. Era pagão. Parece que passou a ser usada pelos judeus no século XV
como símbolo distintivo, querendo os judeus asquenazis um símbolo para si, como
os cristãos tinham a cruz. Um símbolo pagão que foi adotado pelos judeus como
resposta à cruz dos cristãos. Eis a estrela de Davi.
O
candelabro de sete braços, chamado menorah ou menorá, é outro símbolo
largamente usado. De acordo com as instruções de Moisés (Êx 37.17-23), ele foi
criado no deserto por Bezalel, para ser colocado no tabernáculo no deserto. É
constituído de uma haste central de onde saem três braços para cada lado, e
sete lumes de lâmpadas. Simbolizando a presença de Deus e Sua luz no meio do
seu povo ele deveria ser feito de ouro puro.
Não
precisamos mais de símbolos ou objetos que representem a presença de Deus no
nosso meio, pois o Espírito de Deus foi derramado no Pentecostes, e agora somos
Sua habitação, templos onde habita a luz da Sua glória.
Segundo
o Pr. Isaltino Gomes Coelho, no mesmo Congresso:
Moisés não criou a figura do nada. Ela é uma
representação da árvore do mundo babilônica. Curiosamente, a lâmpada central se
chamava Shamash, o nome do deus babilônico Sol. Aliás, Gênesis não cita o
Sol e a Lua, na criação, mas fala do luminar maior e do luminar menor (Gn
1.16), exatamente para evitar o culto ao deus Sol. Não é necessário presumir
que Moisés copiou os caldeus, mas é licito pensar numa memória da raça, em algo
comum ao mundo daquela época. O Sol era o centro da vida para todos.
O
primeiro símbolo que analisamos, que foi adotado pelos judeus, era um símbolo
pagão. Logo após analisamos um símbolo judeu que tem estreita relação com um
símbolo babilônico. Finalmente chegamos
a pomba, o terceiro símbolo mais usado no neopentecostalismo e que é
cristão.
A
Bíblia nos revela, a partir do batismo de Jesus em Mt 3:16, que a pomba é
símbolo do Espírito Santo. É preciso que atentemos para o fato de algumas
igrejas terem a pomba como símbolo, mas não terem a cruz. Qual mensagem está
sendo passada?
A
ação do Espírito Santo, e não a cruz ou Cristo, é o foco das igrejas
neopentecostais. Há uma ligação incorreta feita por muitos fiéis entre mover do
Espírito e a alma (psique), sede das emoções do ser humano. Assim as emoções
prevalecem no ambiente neopentecostal, tomadas como manifestações do Espírito.
Então o subjetivo - "Estou sentindo
no meu coração" - prevalece sobre o objetivo - "A Bíblia diz
assim".
Sem
entrar no mérito da origem desses símbolos, temos que reconhecer que eles estão
presentes em templos e levam as pessoas a uma reflexão espiritual. A grande
questão a ser analisada é que a linguagem dos símbolos está sujeita à
interpretações pessoais. Assim ele pode ter uma conotação maior ou menor para o
indivíduo, dependendo de como ela o recebe. Uma sensação é comunicada, muito
mais que conceitos. Importa como a pessoa se sente e não uma análise teológica,
porque as necessidades espirituais mais do que intelectuais são emocionais.
Além
do discurso emocional, a pregação neopentecostal é baseada em símbolos que
remetem à imaginação, sendo emotiva e não direcionada ao intelecto. É por esse
motivo que entre os neopentecostais o anseio pelo sobrenatural é suprido em
muito maior intensidade do que entre os tradicionais. Nas palavras do Pr.
Isaltino Gomes Coelho: "Corremos o risco de criarmos um 'alto evangelho',
assim como há um 'alto espiritismo'".
Trecho extraído de:
ALVES FILHO, Rubens. Incoerências Apostólicas: Princípios veterotestamentários e heresias nas igrejas neopentecostais brasileiras. 2015. 38 f. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Pós-Graduação em Teologia) - Faculdade Teológica Batista de São Paulo, São Paulo, 2015.